terça-feira, 5 de julho de 2016

E assim começamos...



Aqui começa a viagem do herói, do bobo, do Eu, de mim ou de nós. Uma viagem rumo ao desconhecido de nós mesmos, através de nossas experiências pela vida.

Uma viagem de autoconhecimento, por que não de previsão ou melhor ainda de aconselhamento.

Seja bem vindo!

domingo, 9 de janeiro de 2011

CORRETO x COMPLETO



Buda nunca se referiu ao correto em oposição ao errado. Correto significa ser correto sem um conceito do que é correto. Correto é a tradução do sânscrito “samyak”, que significa “completo”. A completude não precisa de ajuda relativa, ou apoio de comparações; ela é auto-suficiente.
Samyak significa ver a vida como ela é, sem muletas, de maneira pura. No bar, as pessoas dizem: “quero um drink puro”. Não diluído com soda ou água; você toma ele puro. Isso é samyak. Sem diluições ou misturas — apenas um drink puro.
Buda descobriu que a vida poderia ser poderosa e deliciosa, positiva e criativa, e compreendeu que você não precisa de nenhuma invenção para misturar com ela. A vida é um drink puro — prazer puro, dor pura, pureza, cem porcento.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

As 37 Práticas de Todos os Bodhisattvas



De Gyalsé Thokmé Zangpo[1]

O Mestre vê todas as coisas que estão para além do vai e vêm,
E mesmo assim luta incansavelmente para o bem dos seres vivos –
Meu precioso guru inseparável do Senhor Avalokita,
Com respeito eu vos presto homenagem perpétua, com o meu corpo, palavra e mente.

Os perfeitos budas, que são a fonte de todo o beneficio e alegria,
Aparecem como seres através da realização do Dharma sagrado.
E isso depende de saber como praticar o Dharma,
Eu vou descrever as práticas de todos os herdeiros legítimos dos budas.

1. A prática de todos os bodhisattvas é estudar, reflectir, e meditar,
incansável, tanto de dia como de noite, sem nunca cair na ociosidade,
Para se libertar a si e aos outros deste oceano do samsara,
Tendo ganho este supremo vaso corporal  - uma vida humana favorável e livre, que é tão difícil de encontrar.

2. A prática de todos os bodhisattvas é deixar para trás de si a sua terra natal,
Onde o apego à família e amigos nos subjuga como uma enxurrada
Enquanto a aversão aos nossos inimigos nos rói interiormente como um fogo escarlate,
E a escuridão ilusória eclipsa ou seja torna incompreensível, a linha de conduta que devemos seguir e o que deixar para trás.

3. A prática de todos os bodhisattvas é ir regularmente para lugares solitários,
evitando o que não é saudável, para que as emoções destrutivas gradualmente desaparecem,
e, na ausência de distracções, a prática virtuosa naturalmente se fortalece avançando rapidamente, com a consciência atenta e focalizada, adquirimos convicção nos ensinamentos.

4. A prática de todos os bodhisattvas é renunciar a todas as preocupações da vida,
Durante muito tempo fizemos amizades e relacionamentos com familiares, e
Agora todos nós temos que seguir caminhos separados;
Riquezas e bens tão penosamente adquiridos, devem ser deixados para trás;
E a consciência, a convidada que mora no nosso corpo, também um dia deve partir.

5. A prática de todos os bodhisattvas é evitar amigos destrutivos,
Na companhia dos quais os três venenos da mente ficam mais fortes,
E por causa deles cada vez estudamos, reflectimos e meditamos menos,
E tanto o amor como a compaixão esmorecem, até se extinguirem.

6. A prática de todos os bodhisattvas é estimar os amigos espirituais[2]
Pensando neles como ainda mais preciosos que o próprio corpo,
Pois são eles que nos ajudam a livrar-nos de todos os nossos defeitos,
E que fazem com que as nossas virtudes cresçam ainda mais,
tal como a lua crescente.

7. A prática de todos os bodhisattvas é tomar refugio nas Três Jóias,
Pois elas nunca deixam sem resposta , os protegidos que os apelam,
Os deuses comuns do mundo não podem ajudar ninguém
enquanto eles próprios estiveram na armadilha
do ciclo vicioso do samsara, não é assim?

8. A prática de todos os bodhisattvas é nunca cometer um acto prejudicial,
mesmo que isso ponha a sua própria vida em risco,
pois o próprio Sábio ensinou que as acções negativas
quando chega a hora nos levam ás múltiplas misérias dos mundos inferiores, tão difíceis de suportar.

9. A prática de todos os bodhisattvas é lutar para atingir o seu objectivo,
que é o estado supremo imutável, a libertação eterna,
pois a felicidade dos três reinos só dura um momento,
e logo se vai embora, tal como gotas de orvalho em colinas de ervas

10. A prática de todos os bodhisattvas é desenvolver o bodhicitta,
assim como proporcionar a liberdade a todas os infinitos seres sensíveis,
como seria possível encontrar a verdadeira felicidade enquanto,
as nossas mães que cuidaram de nós através dos tempo, carregam uma dor?

11. A prática de todos os bodhisattvas é fazer uma troca genuína
da felicidade pessoal e bem estar, por todos os sofrimentos dos outros.
Toda a miséria vem da procura da felicidade pessoal só para si,
Enquanto o estado de buda perfeito nasce do desejo do bem dos outros.

12. Mesmo se outros, sob a influencia de um grande desejo, roubarem,
ou encorajarem os outros a roubar todas as riquezas que tenho,
dedicar-lhes totalmente o meu corpo, bens e todos os meus méritos
do passado, presente, e futuro – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

13. Mesmo se os outros quiserem cortar a minha cabeça,
embora eu nada tenha feito de mal,
tomar sobre mim rpóprio, com compaixão,
todos os males que eles acumularam – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

14. Mesmo que os outros declarem a toda a gente
montes de coisas desagradáveis sobre mim,
retribuir-lhes, falando só bem deles,
com uma mente cheia de amor – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

15. Mesmo que os outros exponham os meus erros escondidos ou digam horrores sobre mim, quando discursam em grandes conferências
pensar neles como amigos espirituais e  inclinar-se
ante eles com respeito – esta é a prática de todos os bodhisattvas

16. Mesmo que os outros, de quem cuidamos como se fossem nossos filhos, se voltam contra mim e me tratam como inimigo,
olha-los com dedicação e afecto, tal como uma mãe olha o seu filho mal-humorado – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

17. Mesmo se outros, iguais ou inferiores a  mim em estatuto,
com arrogância, me desprezam, para os homenagear, tal como o faria ao meu mestre,
inclino a minha cabeça perante eles – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

18. Mesmo sendo desamparado e ignorado por todos,
fraco devido a uma terrível doença e importunado por espíritos malignos, ainda assim tomar sobre mim todas as doenças de todos os seres e acções nefastas, sem nunca perder a bondade do meu coração – esta é a prática de todos os bodhisattvas

19. Mesmo sendo famoso e reverenciado por todos ,
e tão rico como Vaishravana, o deus da riqueza.
Ciente da futilidade de toda  a glória e riquezas deste mundo,
E não ser vaidoso – esta é a prática de todos os bodhisattvas

20. A prática de todos os bodhisattvas é controlar a mente,
com as forças do amor generoso e da compaixão.
Pois a não ser que o adversário real – a minha própria ira – seja derrotada,
Os inimigos exteriores, mesmo que os conquiste, voltarão a aparecer.

21. A prática de todos os bodhisattvas é afastar-se imediatamente
das coisas que levam ao desejo e ao apego.
Pois os prazeres dos sentidos são tal e qual como a água salgada:
Quanto mais os provamos, mais a nossa sede aumenta.

22. A prática de todos os bodhisattvas é nunca alimentar conceitos,
que envolvem as noções dualistas de perceber e ser percebido,
sabendo que todas estas aparências são a própria mente,
cuja natureza intrínseca está para sempre
para além das limitações de ideias.

23.A prática de todos os bodhisattvas é não se agarrar a nada
E quando vê coisas que considera  agradáveis ou desagradáveis,
Deve considerá-las como arco-íris num céu de verão –
Aparentemente bonitos, mas realmente desprovidos de qualquer substãncia.

24. A prática de todos os bodhisattvas é reconhecer a ilusão,
sejam eles confrontados com a adversidade ou infortúnio.
E como esses sofrimentos são como a morte de uma criança num sonho,
E é tão cansativo agarrar-se ás percepções ilusórias tendo-as como reais.

25. A prática de todos os bodhisattvas é ser generoso,
sem esperanças de recompensas kármicas ou expectativas de prémios.
Pois se aqueles que buscam a iluminação até dão os seus próprios corpos, será necessário mencionar simples objectos e bens exteriores?

26. A prática de todos os bodhisattvas é respeitar uma ética restritiva,
sem a mínima intenção de continuar na existência samsarica.
Sem disciplina nunca ninguém terá como  certo o seu próprio bem estar,
E assim qualquer pensamento de como beneficiar os outros será absurdo.

27. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a paciência,
livre de qualquer traço de animosidade contra alguém,
como qualquer fonte de mal é como um tesouro principesco
para o bodhisattva que deseja ardentemente usufruir da riqueza da virtude.

28. A prática de todos os bodhisattvas é lutar com diligente entusiasmo –
a fonte de todas as qualidades – quando trabalham para o bem de todos os que vivem;
vendo que mesmo os shravakas e pratyekabuddhas, que só se esforçam para eles próprios – dedicam a ele todos os seus esforços, como se urgentemente tentassem extinguir fogos por cima das suas cabeças.

29. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a concentração,
que transcende superiormente as quatro absorções sem forma,
sabendo que as aflições mentais são ultrapassadas inteiramente
ao alcançar com esforço uma  intuição interior, acompanhada por uma calma estável.

30. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a sabedoria,
para além das três esferas conceptuais, aliadas aos meios hábeis,
como não é possível atingir o nível perfeito do despertar
só através das outras cinco paramitas, sem a sabedoria.

31. A prática de todos os bodhisattvas é examinar-se
continuamente e livrar-se dos seus defeitos mal eles apareçam.
Pois a não ser que façamos o check in cuidadoso da nossa própria confusão,
Alguém parece evidenciar que prática o Dharma, mas opera contra ele.

32. A prática de todos os bodhisattvas é nunca falar desfavoravelmente
dos que caminham no grande veiculo,
pois se, sobre a influencia das emoções destrutivas,
eu falar das quedas dos outros bodhisattvas, o erro será meu

33. A prática de todos os bodhisattvas é abandonar o apego
aos patronos, à família e amigos,
pois o estudo, a reflexão e a meditação diminuem
quando à discussões e competições por honras e recompensas.

34. A prática de todos os bodhisattvas  é evitar palavras duras,
que possam ser consideradas pelos outros desagradáveis
e detestáveis, porque a linguagem ordinária perturba a mente dos seres,
e arruina a conduta do bodhisattva.

35. A prática de todos os bodhisattvas é chacinar o apego
e todas as outras aflições mentais, mal elas emergem,
tomando como armas os remédios apoiados na atenção plena e na vigilância
pois uma vez que as kleshas se tornam familiares, são difíceis de evitar.

36. Resumindo, seja o que for que façamos,
examinemos sempre o estatuto da nossa mente,
sempre em estado de alerta e com atenção plena,
fazer o bem aos outros – esta é a prática de todos os bodhisattvas

37. A prática de todos os bodhisattvas é dedicar-se a atingir a iluminação
toda a virtude ganha ao esforçar-se nesses caminhos,
com sabedoria que purifica as três esferas conceptuais,
podendo assim fazer desaparecer o sofrimento dos seres infinitos

Aqui expus para aqueles que querem seguir o caminho do bodhisattva,
As 37 práticas que devem ser adaptadas pelos herdeiros legitimos dos budas,
Baseado nos ensinamentos dos sutras, tantras, e tratados,
E seguindo as instruções dos grandes mestres do passado.

Como a minha inteligência é pouca e pouco estudos fiz,
Este não é um texto que vá satisfazer os entendidos
Mas como confiei  nos sutras e no que os santos ensinaram
Eu sinto que verdadeiramente estes são os treinos autênticos,
dos herdeiros legítimos dos budas

Mas, as ondas enormes da actividade dos bodhisattvas
São difíceis para  a mente de uma pessoa simples como eu, de apreender,
E assim imploro a compreensão de todos os santos perfeitos
Por qualquer contradição, irrelevâncias ou outros falhas, nele contidas. 

Através do mérito que ganhei, possam todos os seres,
Gerar o sublime bodhichitta, tanto relativo como absoluto,
E através disso, tornarem-se iguais ao Senhor Avalokiteshvara,
Transcendendo os extremos da existência e da imobilidade.

Este texto foi composto numa cave perto de Ngulchu Rinchen pelo monge Thokmé, um professor em escrituras sagradas e dialéctica, para o seu bem e dos outros.

Dedicatória:
“Just as the Buddhas and the Bodhisattvas have followed the Bodhisattvas’ way of life and benefit sentient beings, may I also follow in their footsteps.”

"Tal como os Budas e os Bodhisattvas seguiram o estilo de vida dos Bodhisattvas, beneficiando todos os seres sensíveis, possamos nós também seguir os seus passos."

Jikmé Khyentse Rimpoche


“As the Buddhas and Bodhisattvas managed to develop a good heart towards all beings, may we also have the capacity to develop.”

"Tal como os Budas e Bodhisattvas conseguiram desenvolver um bom coração  para com todos os seres, possamos nós também ter a capacidade de o desenvolverr."
           
Tulku Pema Wangyal Rimpoche


Traduzido  por  chodon (conceição

[i] NGULCHU THOGMÉ ZANGPO (1295 - 1369) Mestre celebre da tradição Kadampa, discípulo do grande Buton Rimpoché. Estudou no Mosteiro do Sakya. Transbordava de amor e compaixão para com todos os seres, era humilde e paciente, e quando dava ensinamentos sobre o Bodhicitta, o sofrimento dos seres estava tão presente no seu espirito que as lágrimas lhe rolavam pelos olhos. Acompanhava-o sempre um lobo, que o seguia como um cão fiel e que era vegetariano.
[ii] Madhiamikas, www.Siddhartha's Intent.org - - Gentle Voice : April 2006, ler: How to look for a Guru and be a Student by Dzongsar Khyentse Rinpoche

Fonte Desconhecida.

MATRIX - Uma concepção Esotérica


Caros amigos descionhecidos,

Há muito tempo atrás quando do lançamento do filme Matrix, li esse artigo escrito pela Sociedade Estudos Teosóficos "SETE" que não sei existir hoje em dia.

Como nada pode ser levado ao pé da letra, vale o texto pelo conteúdo, muito interessante. Lembro que na época ainda não existia o Matrix Reload e o Matrix Revolution, a sequencia do primeiro e que, seguem a mesma linha.

Abraços,

Sadhaka




Análise do filme

Esse filme é o que se pode chamar de uma revelação, no sentido de re-velar, ou seja velar de novo, apresentando antigos ensinamentos numa linguagem nova, utilizando para isso, com uma certa mistificação, o elemento tecnológico do mundo moderno, a Internet.

Dessa forma, através de uma nova contextualização, o filme resgata para nossa civilização, de uma forma alegorizada, verdades universais contidas no Tao Te King; Bhagavad-Gita, em todos os Vedas, enfim, verdades que de outro modo se perderão, se não encontrarmos uma linguagem que nos permita comunica-las às novas gerações.

Nele fica nítido que um dos arquétipos do herói mitológico, muito utilizado na época do Jesus bíblico, geralmente associado a determinados imperadores, heróis, ou semideuses, permeia toda a trama, no caso em questão, o arquétipo utilizado é o do messias, ou ungido, que podemos resumir da seguinte forma: Um redentor esperado, de nascimento virginal, a traição por parte de um de seus companheiros, a luta contra as forças do mal, a morte e a ressurreição, e finalmente a ascensão aos céus.

O Filme, analisado hoje, começa com Trinity, a iniciadora em conexão com o mundo real através de uma linha telefônica, no Heart O' The City Hotel. Essa linha do ponto de vista simbólico, eqüivale a vibração do Anahata, ou Chacra Cardíaco, que permite-nos, uma vez ativado, sintonizar nossa consciência com nosso átomo primordial. No atual estado evolutivo da humanidade, esse chacra só pode ser dinamizada pelo elemento feminino.

O número que vemos em exposição na tela do console manipulado pelo personagem Trinity, é 506, equivale ao Arcano 11, (5+0+6= 11), ou seja a lâmina da força. Nesta lâmina do Taro, vemos uma mulher abrindo com as mãos nuas, a boca de um leão No filme, Trinity representa a Shakti, a força que penetrando no Chacra cardíaco do iniciado, promove a consciência.

O ser que está na Senda Iniciática, representado pelo personagem principal, utiliza um pseudônimo, o equivalente ao nome secreto empregado em algumas escolas. Neo, lido anagramaticamente, eqüivale a Noé, One (um), ou Eon, que em grego significa ciclo, era ou período, simbolizando a ligação desse personagem com um novo começo, algo novo, uma nova era.

Ele, Neo, recebe a primeira instrução de sua iniciadora, Trinity, que lhe diz como se estalasse os dedos, "Acorde, Neo", da mesma maneira que os iniciadores repetem isso aos discípulos, durante toda a sua jornada na Senda.
O personagem principal do filme, como todos os outros que se iluminaram antes dele, procurava a resposta para nas palavras de Trinity, "A pergunta que nos impulsiona".

Quando finalmente trava contato, com Morfeu, seu Mestre, este diz a Neo, que "há duas formas de sair daí, uma é pelo andaime, outra é levado por eles", ou seja uma vez que o indivíduo, desperta para as Leis ocultas que determinam os acontecimentos nos planos da manifestação, elevando sua consciência a um nível superior as pessoas comuns, só há duas maneiras dele continuar seu desenvolvimento, uma é subindo, outra é capturado pelas forças, que representam os processos personalísticos que nos controlam.

Neo hesita, devido a seu medo e desconfiança, gerados pelo sentimento de auto-preservação e acaba capturado pelos elementos personalísticos.

Mas tarde, vemos Neo, de volta a sua vida comum, supostamente liberto, sendo levado ao encontro de Morfeu, para sua iniciação. Porém, antes dele entrar no vestíbulo onde o Mestre o espera, Trinity a iniciada que o guia, como uma Ariadne que guiou Teseu no labirinto de Creta, lhe dá um conselho semelhante ao que é dado a todo discípulo em prova; "Seja sincero. Ele sabe mais do que você imagina.". Só então, ela lhe abre a porta da sala onde o Mestre lhe espera.

Durante o dialogo que se segue, Morfeu observa que ele, Neo, é; "Um homem que aceita o que vê". Entendemos melhor essa afirmação quando consideramos que o nome "real" do personagem Neo no filme, é Thomas A. Anderson, Thomas é equivalente a Tomás ou Tomé, demonstrando o relacionamento do personagem a São Tomé, o apóstolo que precisava ver para crer.

Vale notar, que o sistema iniciático adotado por Morfeu, relaciona-se, na sua forma extremamente simples e objetiva, a iniciação mental, praticada nas escolas em sintonia com o atual estado de consciência da humanidade, focado mental concreto, e que portanto não trabalham mais com o sistema de iniciação astral, ou fenômenico, utilizada em escolas mais primitivas.

Morfeu, ensina sobre A Matrix - (Ma = m = Maya, que significa ilusão em sânscrito e Trix = Tri = Três). Matrix, tem o mesmo significado das tradicionais Três Mayas, Três Véus, ou Três Ilusões, a ilusão física, a ilusão psíquica e a ilusão espiritual, que segundo o hinduismo ocultam a realidade.

Ele, o Mestre, apresenta seus ensinamentos na forma de questões do tipo "Você deseja saber o que ela é ?", ao receber resposta afirmativa de Neo, continua "A Matrix, está em todo lugar. A nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela, ou quando liga sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai a igreja, quando paga seus impostos. É o mundo colocado diante dos seus olhos para que não veja a verdade.".

Ao questionamento seguinte do discípulo (Neo), sobre o que é a verdade, ele continua implacavelmente, dizendo que a verdade é "Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente. Infelizmente é impossível dizer o que é a Matrix (ou a Maya). Você tem de ver por si mesmo.", nesse momento então ele oferece a Neo, uma pílula azul, para conservar o sonho, a Maya e outra vermelha para mudar sua percepção da realidade. A cor da primeira pílula, o azul é associada ao conservadorismo, no mesmo sentido do sangue real, ou azul das antigas monarquias européias. A cor da segunda é vermelha, relacionado as transformação revolucionárias violentas, associado a mudanças radicais. Morfeu, o Mestre, tem a chave que abre as portas para o real, mas Neo, o discípulo, tem que fazer a escolha.

Durante a iniciação ele morrerá para um mundo de sonhos e nascerá para o mundo real, despertando plenamente para a verdadeira natureza, do mundo físico, do mundo psíquico e do mundo espiritual, compreendendo dessa forma a tríplice natureza unitária da realidade. Para entendermos melhor o que ocorre com Neo a partir daí, é importante considerarmos o que é dito no Bhagvad-gita, por Sri Krisna, quando se dirige a seu discípulo Arjuna e lhe diz "Ó Arjuna, o Senhor Supremo está situado no coração de todo mundo, e dirige as divagação(os sonhos) de todas as entidades vivas, que estão sentadas como numa máquina, feita de energia material".(Bhagavad-Gita Como Ele É, texto 61, capítulo 18, pág. 706. - A.C. B.Swami Prabhupada).

No filme, já no mundo real, a bordo do Nabucondonossor, observamos a analogia da lei que afirma que são necessários sete discípulos, para formar um Mestre, temos os personagens; Trinity, Apoc, Switch, Dozer, Tank, Mouse e Cypher, como os sete discípulos, tendo como representante da consciência do Mestre, a figura do líder Morfeu, ou Morpheus (Personagem mitológico, deus do sono grego).

Na nave, ou arca, chamada no filme de Nabucondonosor, percebemos referencia o ano 2069 (2+0+6+9 = 17), correspondente ao Arcano 17, a Estrela, símbolo relacionado a egrégora da Obra, em que estão empenhados esses divinos rebeldes.

Avançando um pouco mais, vemos que na segunda parte da iniciação de Neo, Morfeu lhe informa que no começo do século 21, número que no Taro iniciático de JHS, corresponde a lâmina do Louco, os homens criaram a I.A. (Inteligência Artificial), um tipo de consciência singular, que gerou uma raça inteira de máquinas, ou de seres mecanizados. Bem semelhante ao que acontece em nossos dias, onde os seres humanos, vão sendo "robotizados", num processo de massificação que antigamente era chamado costume, mas que na atualidade tem o nome de moda. Tornando-se cada vez mais inconscientes, num mundo dominado por padrões de comportamento.

Segundo Morfeu, encantados com sua própria grandeza, os homens celebravam sua realização, porém na guerra que adveio após tal sucesso, eles queimarão o céu, ou seja fecharão as portas para as energias solares, positivas, transformando o mundo num deserto tecnológico de trevas, sem Deus, onde os seres mecânicos se tornaram os senhores.

Da era de ouro porém, só restou Sião, "a última cidade humana", Sião ou Sinai, é na tradição israelita o Monte sagrado onde Moisés teria recebido as Tábuas da Lei do próprio Deus.

Segundo o personagem Tank, Sião fica localizada nas entranhas da Terra, próximo ao seu núcleo incandescente, o Sol Central do planeta. Relacionando-se claramente assim, aos mistérios dos Mundos Subterrâneos, especificamente a cidade subterrânea de Shamballa (Sião = S = Shangrilla, Shamballa das tradições transhimalaianas). Shamballa, é um núcleo de integração de consciências espirituais elevadíssimas, que vibra no interior da terra, representado alegoricamente como uma cidade. Dessa forma, Sião representaria o lugar onde realmente somos o que somos e do qual fomos enviados a face da terra, onde conforme diz o personagem Tank, será festejado o fim da guerra maniqueista entre os filhos da Luz e os filhos das trevas, representados pelos homens e pelas máquinas.

Só o líder, ou o Mestre, de cada nave, ou Arca, recebe as senhas, ou as chaves, para penetrar em Sião, assim Morfeu, é também um pontífice (Pontifex = construtor de ponte), construindo a ponte entre o mundo ilusório e o mundo real, entre Matrix e Sião.

Já na terceira fase do processo iniciático (treinamento) que Morfeu submete seu discípulo, ele declara a Neo, "Quero libertar sua mente, Neo. Mas só posso te mostrar a porta. Você tem de atravessa-la".

Apesar do personagem de Morfeu declarar no filme, que os seres humanos não estão prontos para "acordar", isso não faz das pessoas adormecidas inimigas. Suas palavras contundentes, expõem o que é dito nos Vedas, quando os sábios afirmam que todos; pais, mães, irmãos, avôs, avós, amigos, namorados, cônjuges, etc. são "soldados ilusórios", que promovem nosso apego a Maya, pois enquanto adormecidos, os seres humanos fazem parte do "sistema ilusório", portanto possuem em sua estrutura processos personalísticos que eles mesmos desconhecem, mas que tomam conta de sua consciência em algumas ocasiões, para defender seus preconceitos e manter sua existência ilusória. Esses processos personalísticos que nos prendem a ilusão, são representados no filme pelos agentes da Matrix, programas sencientes que entram e saem em qualquer software conectado ao sistema deles. Fazendo eco as palavras dos sábios nos Vedas, Morfeu diz, que "Qualquer um ainda não libertado, é um agente em potencial da Matrix. Eles são todos e não são ninguém". Os processos personalísticos, relacionam-se aos sete pecados capitais, "...eles são os porteiros, protegem todas as portas e tem todas as chaves.".

As vezes os seres humanos, são vencidos por esses agentes da Matrix, alguns até pactuam com eles, como é o caso de Cypher. Ele é aquele viu a verdade, despertou para a realidade mais prefere a ilusão e a mentira. Ele, Cypher, diz ter percebido após nove anos (número equivalente aos degraus da escada de Jacó, que simbolicamente leva o homem do mundo terreno ao mundo espiritual), que "A ignorância é maravilhosa". Dessa forma, pensam os magos negros, aqueles que fazem opção por Avidya, pela ignorância, que voltam as costas à Luz e mergulham voluntariamente na escuridão.

Os que assim procedem, sempre acusam aos que lhes mostraram o caminho, de fraquezas e incapacidade, que eles mesmos possuem. Corroídos pelo ódio, pela luxuria e pela inveja, afirmam terem sido enganados, por seus Mestres, que quando fazem realmente jus a esse nome, tentaram sempre, guia-los na Boa Senda. Cypher, representa o traidor, que trai a sua própria natureza humana, ao submeter-se ao domínio das máquinas. Ele oferece a si mesmo, como pasto para as forças negativas que passa a servir, em troca de prazeres ilusórios. Age assim no intuito de satisfazer seus impulsos baixos, suas Nidhanas.

O iniciado, seguidor dos Mestres da Grande Fraternidade Branca, até que se torne verdadeiramente um Adepto, enquanto estiver encarnado, sentirá os apelos de seus veículos inferiores. Isso ocorre porque nesse estado, ainda possui elementos básicos em sua composição ainda por equilibrar e que por isso mesmo exigem satisfação. Apesar disso ele não os nega, mas os transmuta, canalizando-os para realizações reais que o libertem cada vez mais da ilusão da Maya, tornando-os elementos impulsionadores de sua evolução. Num determinado ponto do filme, inclusive, um dos membros da tripulação Mouse, fala com Neo sobre isso, dizendo-lhe, que "Negar os nossos impulsos é negar aquilo que faz de nós humanos". 

Ciente disso, o verdadeiro iniciado é extremamente consciente de seus impulsos, não os recalcando hipocritamente para as regiões do subconsciente, onde irão se acumulando, como esqueletos no armário, de onde continuarão a atuar sem nenhum controle, disciplina ou educação, até invadirem como uma enchente de um rio bravio, a consciência, dominando-a e arrastando-a as maiores perversões. Por isso o verdadeiro iniciado, sabe que deve, como nos ensinou nossa Grã-Mestrina Helena Jeferson de Souza, vigiar seus sentidos, para através de um sistema iniciático sério, de uma disciplina superior, não recalcar, mas trabalhar, transformar suas Nidhanas, ou tendências negativas, em Skandhas, ou características positivas.

Num determindado nível dessa etapa da iniciação de Neo, Morfeu o conduz até o Oráculo, vemos que a entrada do elevador é guardada por um cego, que vê. Ele, o cego, que responde ao sinal que Morfeu lhe faz com a cabeça, representa os iniciados, guardiões da Luz, cegos para o mundo ilusório, mas iluminado para a realidade. Já dentro do elevador o Mestre, diz então a Neo, para tentar "Não pensar em termos de certo e errado.", pois para os que chegam ao Oráculo, certo e errado, bem e mal, feio e bonito, todos os pares de opostos se anulam. As portas do Oráculo, Morfeu, o Mestre diz ao seu discípulo, "Só posso te mostrar a porta. Você tem de atravessá-la.", indicando assim que cada passo do discípulo em prova é dado por sua própria conta, pois na Senda da Iluminação ninguém caminhará, ou tomará as decisões por ele.

Porém, quando Neo coloca a mão na maçaneta da porta, esta lhe é aberta, mais uma vez por uma sacerdotisa. Essa atuação constante do elemento feminino, demonstra a necessidade da interação dinâmica de ambas as polaridades humanas, de acordo com certas regras esotéricas.

Assim macho e fêmea, interagem ciclicamente no processo iniciático de crescimento espiritual, através do entrelaçamento das forças de Fohat e Kundaline. Ao integrarem-se dessa forma, ambas as energias dão origem ao Andrógino Divino, um ser verdadeiramente equilibrado, mas que conserva as características do corpo que ocupa, se masculino, vive e relaciona-se como homem, se feminino, vive e relaciona-se como mulher, podendo em alguns casos fazer opção pelo Brahmacharya, ou voto de castidade. O resultado da integração dinâmica das polaridades cósmicas, é totalmente diferente das expressões caóticas homossexuais ou bissexuais, dois tipos que representam seres decaídos, em oposição ao Andrógino Divino, que é a perfeição evolutiva humana.

Já dentro da sala do Oráculo, Neo encontra várias crianças, especialmente um menino, uma espécie de pequeno monge, do qual aprende alguns mistérios, sobre esse mundo ilusório, num episódio que lembra bem aquela passagem bíblica, onde o Cristo bíblico, ensina que aquele que não se tornar como estas crianças, não entrará no reino dos céus. Dentro do Oráculo, uma cozinha, onde a Pitonisa, ou profetisa (novamente uma mulher), manipulando um forno moderno, quebra as expectativas do discípulo. A cozinha nos faz lembrar o laboratório dos alquimistas e o forno o Athanor, ou forno utilizado pelos alquimistas, Adeptos da Arte Real.
Num determinado ponto de sua conversa ela, a Pitonisa, cita-lhe o celebre axioma socrático, "Conhece-te a ti mesmo", que via-se as portas do oráculo de Delfos, o qual essa etapa do filme representa. Só que as portas do Oráculo de Delfos, as palavras citadas no filme, estavam escritas em grego e de forma mais integral exortavam, "Homem, conhece-te a ti mesmo e conheceras o Universo e os Deuses.".

A mulher que representa a Pitonisa do Oráculo, lhe afirma de forma metafórica, que "Ser o escolhido é como estar apaixonado. Ninguém pode te dizer se você está. Você simplesmente sabe. Não tem dúvida, nenhuma". Assim ao lhe falar sobre o escolhido, ela descreve o processo de iluminação avatárica, pois este não é uma coisa que se busca e que se consegue, ou que fica-se esperando, ele simplesmente é, como algo que simplesmente acontece, e nesse ponto do filme, Neo, não é o escolhido. A Pitonisa, afirma que ele tem o dom, isso diríamos nós todos tem, mas ele parece que "está esperando por algo". Quando Neo lhe indaga, a respeito do que poderia estar esperando ela lhe responde " Sua próxima vida talvez". Dessa forma, Neo age como a maioria das pessoas, que iniciam-se na Senda, e que protela para a próxima vida a iluminação, esperando, pensando que; Afinal ela não é para agora, quem sabe mais tarde...

Ao sair do Oráculo, Neo, encontra-se com Morfeu e este lhe adverte, "Que o que foi dito era para você e apenas para você", assim é com tudo que é comunicado nas verdadeiras iniciações Assúricas, com aquilo que é falado do iniciador para o iniciando, de boca-para-ouvido, de maneira sutil e discreta, quase que imperceptivelmente.

Quando porém, os agentes de Matrix, capturam Morfeu, um representante dos processos internos personalísticos, intelectualiza a existência humana e de forma convincente, compara o seu desenvolvimento humano sobre a terra, que na maioria das vezes, foi totalmente controlado pela personalidade caótica, ou seja por esses mesmos processos internos, ao o de um vírus. Dessa maneira, o agente se coloca como a cura para o mal, que segundo ele é representado pela maior de todas as criações de Deus na Terra, o Ser Humano, ignorando em seu discurso, o desenvolvimento do Espirito Humano, capaz dos maiores gestos de sacrifício, altruísmo e fraternidade, única esperança para o planeta. Esse Espirito Humano, quando plenamente desenvolvido, subjuga a natureza animal e mecânica e converte o Homem, na expressão de Deus na face da Terra. 

Esse espirito humano, quer o chamemos, Deus, Bramam Ala, Jeová, Tao, opõe-se aos processos mecânicos, instintivos e animalescos, que controlam os seres ainda inconscientes, atuando de forma a libertar a Centelha Divina, promovendo o nascimento do Avatar, ou como é expresso no filme do Escolhido. Vemos isso, quando Neo toma a decisão de sacrificar-se, dando-se em holocausto pelo seu amigo e Mestre Morfeu.
Apesar de conhecermos intelectualmente o exposto acima, as esclarecedoras palavras de Morfeu, após ser resgatado devem ser consideradas; "Cedo ou tarde, você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho".

Num determinado ponto do fim do filme a personagem Trinity, reproduz um dos mais antigos mitos da humanidade, ao trazer Neo de volta a vida, fazendo com que ele obtenha sucesso na última e derradeira iniciação conhecida por nós como Morte.

Quase final do filme, vemos através das palavras do personagem principal, que o Avatar não significa um fim, mas um começo, de algo novo, ilimitado, sem fronteiras, um novo ciclo, livre de Maya, sem ilusão, onde tudo é possível ao ser desperto. Ele dirigi-se a Matrix, a estrutura geradora da ilusão, declarando-se decidido a "...mostrar a essas pessoas o que [Matrix] não quer que elas vejam. Vou mostrar a elas um mundo sem você. Um mundo sem regras, sem controles. Um mundo onde tudo é possível.".

Sua última frase, dirigida a Matrix, a Maya, a Ilusão, ou melhor dizendo, dirigindo-se aquilo que torna possível esse processo de auto-hipnose, nossa personalidade, pode ser considerada como dirigida a cada um de nós. Ele fala calmamente sobre a decisão que deixa a cada um dos espectadores, "Para onde vamos daqui, é uma escolha que deixo para você.".

O filme termina, com Neo saindo do chão e voando, reproduzindo o arquétipo da ascensão, ou da subida aos céus, que simboliza a realização plena do iniciado, já tornado um verdadeiro Adepto, por fazendo parte agora de outro processo evolutivo, relativo ao desenvolvimento dos deuses.

"Lembre-se: Tudo que ofereço é a verdade.
Nada Mais."
Morfeu
S.E.T.E.